segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vocação para o fogo
















Comungo dos segredos da tua casa
E da clandestina festa dos teus pássaros.

Nado contra a noite e seus labirintos,
Ao pé da fogueira que sempre nos uniu:
Ideais consumidos no moinho do sonho,
Nas ruínas de velhos combates.

Aprecio tua vocação para o fogo.
Dos teus olhos recolho a urgente
Sensualidade dos relâmpagos
E a força sagrada de sua cólera.

Fui abençoado no calor
Dos teus seios!


(Do livro: Perto do Fogo – Trilogia do Amor,
da Terra e da Esperança)

Filhos do Fogo


Mariana Ianelli






















Não foi o cansaço da jornada
Que de novo nessa noite nos venceu,
Mas um sofrimento antigo, igual a sempre,
A realidade com sua mão espadaúda
Juntando a poeira de uns castelos demolidos,
De tudo extraindo o que sobra de nosso, afinal:
O irreversível.
Cultivamos rituais silenciosos,
Temos dentro de nós a alma do mundo.
Fomos feitos para a solidão,
A mesma que sente um animal
Ao largar o seu rebanho
E esperar a morte suavemente
Numa longa tarde de chuva em Gibeon.
Damos calor às coisas enquanto é tempo
E mais tempo há enquanto estamos mudos.
Gozamos um amor tranqüilo, sem heroísmo.
Assim acontece certas vezes, por espanto:
De um golpe, o infinito nos apanha.
(Do livro Fazer Silêncio – Iluminuras)