quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pássaro noturno











Sagrado como o trigo e o vinho,
Candeia de vigílias antigas,
Um sonho como um castigo
Conduz um coração em terra estrangeira.

As sandálias saúdam pedras
Em caminhos desleais.
Face arranhada de dor.
Lenço extraviado no vendaval.

Face anônima, pássaro noturno,
Não delata a sentença da solidão.
Balançando as mãos,
Enfrenta o livro das despedidas.

O amor é notícia pascal,
Arroubo de lua nova no peito do refugiado.

Pássaro noturno
Bicando a madrugada.
Asas condenadas
A inventar ressurreição.

(Paulo Aires marinho, do livro Perto do Fogo –
Trilogia do Amor, da Terra e da Esperança, p. 23)
Foto: Sebastião Salgado