quinta-feira, 24 de março de 2011

INVENÇÃO DE PEDRA E SONHO











Estoquei meus sonhos para um amor impossível.
Desavisado pássaro nômade,
Não quis o estatuto de   vôos mascarados.
Não indago mais o destino na palma da própria mão.

O sonho manda aviso,
Senhor de tempo marcado,
Não guarda ocas promessas
Nos frutos que virão.

Por esses dias
O tempo é cego,
O tempo é pedra –
Talvez mineral propenso
Aos segredos do vento noturno.





 (Paulo Aires Marinho)

VÍCIO COTIDIANO
















Calejados pés
Sobre caminhos destroçados,
Poeira e sonho.

Essa dor, esse gole de saliva
Escura e amarga.
Esse abraço amigo e definitivo.
Essa estranha sede sem endereço...

Minha alma
Lambendo cacos de estrela
Persegue as entranhas da madrugada.

Meu coração incendiado,
Embornal de Esperança
(alimento imperecível),
Esse vício cotidiano.

(Paulo Aires Marinho – Do livro Perto do Fogo)

Por que escrevo - Bernardo Carvalho



"Eu escrevo porque não daria para não escrever. Não sei explicar. Quando eu não escrevo, fico agitado. Mas não é terapia. É fundamental, é a minha vida. É mais importante que qualquer outra coisa. O chato é quando vejo que é uma ilusão. Uma ilusão que eu criei para mim, mas é uma ilusão que dá sentido para a minha vida. Acredito nesse negócio. Tem um negócio meio religioso. Igreja de um homem só. Vou lá, rezo, e acredito naquele negócio. E funciona. Não acredito em Deus, não acredito em nada. Em alguma coisa, eu tinha de acreditar. E, aí, sobrou a literatura. É ótimo. Agora, não dá para ficar sem. Igual a uma pessoa que acredita em Deus e não consegue passar sem essa crença. Tem de acreditar que Deus existe. Eu acredito na literatura. É uma ilusão. Cada um arruma uma forma para viver. A literatura é a minha."
Bernardo Carvalho, no Paiol Literário, jornal Rascunho.