quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Para sempre
















Teus pés para sempre apaixonados.
Teus olhos para sempre condenados
Ao fogo da beleza.
Tua vida marcada com o beijo das estrelas.
Teu corpo traído pelo decreto da cruz e da espada.
Teu sangue derramado, profanado, pela lei do cifrão.

Senta-te ao pé da fogueira,
Meu irmão e minha irmã continentais,
Entre os Krakhôs e os Incas.
Quero tua mão na minha mão
Nesta dança sem igual,
Nesta ceia de milho ancestral,
Nesta estrada tão breve e tão longa...

Conheci teu lamento, teu aceno, tua chaga.
Provei tua língua, teus livros sagrados, rasgados.

No âmago do sertão, a pesada solidão de Buell Quain
E o fardo de sua morte intempestiva –
Desamparo grudado na cova do silêncio.
Neste continente,
O rosto indígena é curta-metragem,
Notícia caluniada,
Dolorida lembrança que não se arquiva,
Paixão para sempre grafada
Na pedra da memória.

(Poema publicado no livro “Perto do Fogo – Trilogia do Amor,
da Terra e da Esperança”, Paulo Aires Marinho)

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